É praticamente impossível a época das vindimas em Portugal passar despercebida a quem quer que seja. Começa em finais de julho ou início de agosto nas zonas mais quentes do Alentejo e termina no final de outubro nas vinhas mais altas do Douro e Trás-os-Montes.
O que são as vindimas?
Para muitos, as vindimas em Portugal é a altura de colher os frutos de um ano duro de trabalho, que começa no inverno com a poda da vinha, feita sempre nos dias mais frios do ano, muitas vezes debaixo de chuvas torrenciais. Segue-se a preparação da terra, ou seja, adubar e estrumar os solos para repor a energia retirada na vindima anterior e mexer a terra de forma a que não nasçam ervas daninhas que irão comprometer a quantidade e a qualidade das uvas nesse ano.
À medida que o calor da primavera aumenta, as vinhas começam a lançar as primeiras folhas e, posteriormente, as flores que irão transformar-se em cachos — sempre a desejar que as chuvas permitam que entre água nos terrenos, mas que não sejam demasiado longas. Afinal, as chuvas também podem permitir a entrada dos grandes inimigos das uvas: o míldio e o oídio. Os verões querem-se quentes mas não escaldantes e o pior inimigo para uma boa colheita são mesmo as chuvas durante a vindima, resultando sempre em anos de pior qualidade.
Muitas pessoas aproveitam as vindimas para uma ida “à terra”, ajudar os amigos e familiares nesta época tão atribulada, mas também para matar saudades. Juntam-se, às vezes, às dezenas e formam “ranchos” verdadeiramente animados. O trabalho é muito, mas a diversão também. Há muita cantoria para ajudar a passar o tempo e é a época do ano em que a conversa fica mais em dia.
Na vinha
No campo começa-se cedo, com os organizadores da vindima a espalhar caixas, baldes ou cestos pela vinha fora, para que não falte sítio para colocar as uvas. Os tratores ou as carrinhas que vão transportar os cestos para a adega são colocados estrategicamente e é altura de começar o corte. Cada vindimador recebe uma pequena tesoura ou canivete e formam-se grupos de 2-3 pessoas, que devem entrar em cada duas linhas de vinha. À medida que os cestos enchem, estes são deixados debaixo das vinhas e os apanhadores passam de trator ou carregam até à camioneta.
Consoante o dia avança, o calor também começa a apertar e as cantorias matinais já só acontecem muito esporadicamente. É altura de comer para repor forças. Geralmente, já se prova o vinho do ano passado e, à sombra, come-se o farnel. Já só se fala do almoço que vai acontecer quando já não houver um cacho de uvas pendurado.
Retoma-se o trabalho e é cada vez mais duro. As costas começam a ceder e o calor está cada vez mais forte. Quando a vindima termina, a sensação é de alívio.
Os cestos são todos empilhados e as uvas estão prontas para ir para a adega.
Na adega
Nada pode saber melhor do que entrar numa adega fresca, depois de longas horas ao sol. Viram-se os cestos para um tegão e esmagam-se as uvas são desengançadas num lagar de pedra, onde são pisadas a pé, permitindo a extração de cor e sabor durante toda a fermentação. No fim, o vinho vai estagiar em barricas de carvalho e o vinho novo é avaliado no São Martinho.
A Adiafa
Chama-se Afiafa a festa que marca o fim das vindimas em Portugal. Prepara-se um almoço, um jantar ou mesmo um arraial, e convidam-se todos os envolvidos na vindima, assim como as respetivas famílias. É farra certa e garantida! Muita música, comida e bebe-se muito vinho e aguardente.