Fechar pesquisa
Vinhos biológicos, vegan, biodinâmicos ou naturais? As diferenças

Vinhos biológicos, vegan, biodinâmicos ou naturais? As diferenças

Fala-se muito, hoje em dia, em vinhos biológicos, vegan, biodinâmicos e naturais. Mas qual é a diferença entre eles? E são bons?

Atualizado a 12/04/2024
6 MINUTOS DE LEITURA
Vinhos biológicos, vegan, biodinâmicos ou naturais? As diferenças

Há uma cada vez maior panóplia de novos conceitos vínicos a surgir, falando-se muito em vinhos biológicos, vegan, biodinâmicos e naturais. Vamos mostrar-lhe as diferenças na produção e na qualidade.

Vinhos biológicos

Os vinhos biológicos são em tudo semelhantes ao que se fazia há 60 anos, quando não existiam herbicidas, pesticidas, fungicidas (produto para matar as principais doenças das vinhas como o oídio ou míldio), inseticidas (produtos para matar pragas que atacam a vinha como a traça da uva) ou hormonas de regulação de crescimento.

Claro que, já então, se combatiam as doenças da vinha com produtos, mas estes eram o enxofre simples e o cobre simples, extraídos das rochas — e estes ainda podem ser usados na agricultura biológica, ainda que em quantidades controladas.

Por exemplo, uma boa prática para combater insetos utilizada, hoje em dia, na agricultura biológica e não só, é a colocação de hormonas da traça em sítios estratégicos que baralham os machos, impedindo-os de encontrar as fêmeas. Desta forma, bloqueia-se a criação de novas gerações de traças, sem danos para as uvas.

Mas a verdadeira dor de cabeça para quem cuida da vinha são as ervas daninhas. E, neste caso, a alternativa ao herbicida é muito cara —e é, por isso, que não há hoje mais vinhos biológicos. Teria de se arranjar as ervas daninhas com enxadas ou com uma máquina chamada intercepas, que funciona quase como uma super enxada agarrada ao trator.

No que toca à adega, a diferença entre vinhos biológicos e não biológicos é pequena, resumindo-se apenas a limites menores de sulfitos e pouco mais.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, os vinhos biológicos são bons — aliás, alguns daqueles que são considerados os melhores do mundo são biológicos. No entanto, há muitos amadores a produzi-lo, sem saberem verdadeiramente o que estão a fazer, e, por isso, a qualidade de alguns destes vinhos é péssima.

Vinhos naturais

Relativamente aos vinhos naturais, não há regras de jogo — ou seja, o que é um vinho natural para uma pessoa não é para outra. Já vi produtores a descreverem o vinho como natural de maneiras completamente diferentes.

Sei que muitos produtores aproveitam esta procura do mercado para venderem vinhos turvos (enublados – não limpos) — os vinhos estão completamente limpos e depois coloca-se um produto para ficarem sujos, só porque funciona.
Para muitos, um vinho natural não leva qualquer tipo de produto além da uva. Pessoalmente, não acredito que tenha qualidade.

Vinhos biodinâmicos

O vinho biodinâmico exige uma produção muito mais complexa, ligada a energias do universo em que tudo está ligado entre si e criando vibrações, incluindo planetas e estrelas. É neste tipo de produção que se enterram os chifres da vaca na terra.

A viticultura biodinâmica está relacionada com o equilíbrio entre terra, plantas, estrelas e homem. Este movimento foi iniciado em 1920 por Rudolph Steiner.

A gestão da vinha e da adega seguem um calendário biodinâmico que indica quando podem ser feitas as diferentes intervenções.

Os dias têm quatro categorias: raiz, fruto, flor e folha

  • Dias de fruto: os melhores dias para vindimar as uvas
  • Dias de raiz: os melhores dias para podar a vinha
  • Dias de flor: não mexer na vinha nestes dias
  • Dias de folha: os melhores dias para regar as plantas

Se me perguntarem se acredito na biodinâmica, a minha resposta é: em parte, sim. Existe, por exemplo, uma influência clara da lua na turvação de líquidos como o vinho. E, na adega, faz muita diferença mexer os vinhos em luas diferentes.

A prova de vinhos também é influenciada por este calendário. O mesmo vinho provado em dias de fruto sabe muito melhor do que em dias de raiz. É complexo entender o que está por detrás disto, mas, na realidade, a diferença é enorme – aliás, existe uma aplicação móvel que pode seguir e experimentar, chamada “When wine tastes best”.

Relativamente à qualidade, aquele que é considerado “melhor vinho do mundo” é biodinâmico. No entanto, os vinhos são muito diferentes e, acredito, mais adaptados ao gosto dos especialistas. Aliás, diria que o comum dos mortais não vai adorar alguns dos vinhos biodinâmicos disponíveis.

Vinhos vegan

Um vinho vegan é um vinho que, na sua produção, não levou qualquer ingrediente de origem animal. Apesar de feito de uvas, os enólogos precisam de usar alguns produtos para ajudar a fazer o vinho — principalmente, para limpar o vinho, é usada uma proteína. Há 100 anos usava-se claras de ovo, leite ou mesmo, em alguns casos muito específicos, sangue de animais.

Hoje em dia, praticamente todas as adegas usam proteínas de origem vegetal, como a ervilha e a batata. Logo, quase todos os vinhos que bebemos são vegan, mesmo que não o digam. Muitos produtores optam por não usar o símbolo vegan porque acreditam que a maioria dos consumidores vão achar o vinho mais estranho.

Frederico Vilar Gomes
Enólogo Pingo Doce
Partilhar
Artigos relacionados