Se está cansado de ser aquele que menos sabe sobre o néctar de Baco e fica em silêncio quando o tema da conversa é vinho, as dicas de Frederico Vilar Gomes, enólogo Pingo Doce, vão ajudá-lo a perceber do que se fala e a estar mais seguro quando tiver de falar sobre vinho ou escolher o melhor para beber em sua casa.
Há uma temperatura ideal para servir vinho?
Sim. O vinho tinto deve ser bebido fresco, entre 16 °C e 18 °C. Um truque fácil que se pode fazer em casa é colocar a garrafa no frigorífico durante uma hora antes da refeição e assim obter uma temperatura muito boa. Quanto aos vinhos brancos, a maior parte deve beber-se entre os 12 °C e os 14 °C. Pode colocá-los no frio e retirar meia hora antes de servir. Já os espumantes e alguns vinhos verdes geralmente bebem-se mais frios e podem ser retirados do frio no momento de consumo. Em vinhos de baixa qualidade, apenas nesses, pode ser uma boa solução servi-los gelados.
Um vinho com Denominação de Origem Controlada (DOC) é melhor do que um regional?
Nas regiões mais tradicionais como o Douro, Vinhos Verdes, Dão e Bairrada, normalmente, sim. Nas regiões do Alentejo, península de Setúbal, Lisboa e Tejo, regra geral, não. Por exemplo, um Alvarinho DOC (vinho verde) é muito melhor do que um regional.
Quanto tempo se pode guardar uma garrafa aberta?
A maior parte dos vinhos estragam-se em poucos dias, alguns não aguentam sequer um dia. Normalmente, dizemos que cada dia da garrafa aberta equivale a um ano da garrafa fechada, ou seja, um vinho que só se estrague passados 10 dias significa que aguentaria 10 anos em garrafa fechada (mas não creio que seja cientificamente provada esta teoria). Tudo depende da quantidade de vinho na garrafa. O que acontece é que o oxigénio no vazio da garrafa vai oxidando o vinho até este ficar a saber mal.
As garrafas de vinho devem guardar-se deitadas?
Sim. Desta forma a rolha está sempre molhada e veda melhor, permitindo que os vinhos durem muitos anos em garrafa e a sua evolução seja mais lenta. Idealmente, as garrafas devem guardar-se a 14 °C e com humidade entre 70 e 80%. Em posição vertical, as garrafas estão sujeitas a oscilações de temperatura e a entrada de ar é maior, o que deteriora o vinho mais rapidamente. É preferível guardar a uma temperatura constante de 22 °C durante três anos do que num ambiente que oscile entre 10 °C e 30 °C.
A expressão “quanto mais velho melhor” faz sentido associada ao vinho?
Cada vinho tem uma longevidade diferente. Normalmente, os Portos, os Madeiras e os moscatéis duram mais. Seguem-se os tintos, os brancos e, por último, os rosés. Os vinhos de preços mais acessíveis são bons para consumir no prazo de um a dois anos no máximo, sendo que passado este tempo pioram. Os vinhos mais caros, de uma forma geral, podem aguentar mais anos, salvo algumas exceções. Felizmente em Portugal existem ótimos vinhos, e bastante acessíveis, que duram muitos anos.
Os copos importam na hora de saborear o vinho?
Os copos são muito importantes para saborear os diferentes tipos de vinho. De uma forma geral, o copo deve ter um pé para se segurar sem aquecer o vinho. A parte mais larga (barriga) serve para arejar o vinho e a ponta afunilada para concentrar os aromas. Por exemplo, um vinho branco não precisa de arejar muito, mas é bastante aromático, e, por isso, deve beber-se num copo com a barriga mais estreita e mais afunilado na ponta. Por sua vez, o vinho tinto pede um copo com uma barriga maior para arejar mais.
É sempre necessário decantar o vinho?
Não. A maior parte dos vinhos perde em ser decantado. O arejamento que o vinho precisa pode ser dado rodando um pouco mais o copo. Normalmente, usando o copo adequado, os vinhos que ganham em ser decantados são os vinhos que estão ainda muito novos e o arejamento extra vai amaciá-los um pouco. Também alguns vinhos que têm depósito natural (borras que se depositam no fundo da garrafa, fruto do envelhecimento do vinho) devem ser decantados.
Quais são os melhores vinhos? Os monocasta ou os blend?
Nos tintos a nível mundial, creio que existe um empate entre vinhos de uma só casta (uma variedade de uva) e vinhos de blend (mistura de várias castas). Nos brancos, claramente os vinhos de uma só casta são melhores. Em Portugal, os melhores tintos são sem dúvida de blend e nos brancos existe um empate.
Os aromas a flores ou a especiarias existem mesmo ou são fruto da imaginação?
Existem mesmo, mas em quantidades muito pequenas, alguns são exatamente os mesmos compostos químicos, outros são moléculas diferentes, mas que dão aromas semelhantes. Alguns destes compostos já existem naturalmente nas uvas, mas a maioria é elaborada durante a produção.
