Desde os tempos da Antiguidade que a vinha está presente na paisagem algarvia. Introduzida no século VIII a.C. pelos fenícios e gregos, aperfeiçoada pelos romanos e cultivada pelos mouros, a vinha começou a ganhar terreno nas grandes explorações agrícolas, a par dos olivais. As técnicas de vinificação e as culturas evoluíram ao sabor dos tempos, do solo, do clima e das castas, que foram acarinhadas pelos produtores desta região e deram origem aos afamados vinhos do Algarve.
Vinhas entre o mar e as serras do Algarve
A região sul de Portugal possui um clima muito específico: está próxima do oceano Atlântico, mas ao mesmo tempo sente a influência da montanha (serras do Espinhaço de Cão, do Caldeirão e de Monchique), que representa 50% do Algarve e atinge uma altitude máxima de 902 metros, protegendo a região dos ventos frios do norte. Desta forma, há um clima acentuadamente mediterrânico: quente, seco, pouco ventoso, amplitudes térmicas muito reduzidas e com uma média de insolação acima das 3000 horas por ano. Isto torna os dias mais quentes do ano bastante mais amenos do que no interior do Alentejo e na Beira Interior. A humidade no ar é maior e permite que as vinhas não interrompam as maturações como em regiões extremamente quentes. O terroir do Algarve também está bem definido, identificando-se três tipos de solos distintos:
1. Serra
Os solos das serras do Caldeirão, de Monchique e do Espinhaço Cão são mais pobres e com muita pedra de xisto.
2. Barrocal
Terrenos das colinas entre o litoral e a serra que possuem solos calcários com muita pedregosidade (pedras); são os solos mais utilizados na produção de vinha.
3. Litoral
Solos naturalmente mais arenosos e franco-arenosos e com pouca inclinação (acredita-se que há 2000 anos o mar estava cerca de 700 m mais recuado).
As quatro sub-regiões dos vinhos do Algarve
No Algarve, existem quatro sub-regiões vitivinícolas com Denominações de Origem: Lagoa, Lagos, Portimão e Tavira. Ainda assim, a maior parte do vinho produzido na região é vendido sob a designação de Indicação Geográfica.
Os processos de vinificação variavam consoante as zonas, sendo os vinhos do Algarve suaves e bastante frutados. Os tintos apresentam uma cor rubi, definida ou granada, são macios, pouco acídulos e ligeiramente alcoólicos. Os brancos apresentam-se com uma cor palha, são macios, pouco acídulos e ligeiramente alcoólicos.
Vinhos do Algarve: Castas tradicionais
No Algarve, as castas Crato Branco e Negra Mole estão entre as mais antigas da região e caracterizam-se da seguinte forma:
Negra Mole (tinta)
Casta exclusivamente algarvia e que já esteve em vias de desaparecer, faz agora os vinhos mais caros e mais apreciados da região. São vinhos com pouca cor, elegantes, complexos, muito equilibrados e ideais para acompanhar pratos mais leves como sardinhas, aves e caldeiradas de peixe. As uvas têm a particularidade de terem três cores (tintas escuras, rosadas e algumas brancas) misturadas e por isso o vinho tem muito pouca concentração de cor. Muito resistente ao calor, a vindima é feita no final do verão, quando as temperaturas estão mais frescas. Esta casta constituiu a base dos vinhos tradicionais algarvios, desde há vários séculos, em conjunto com outras castas tintas Castelão (Periquita) e Trincadeira.
Crato Branco (branca)
Casta com muito prestígio na região de Lagoa, está bastante espalhada por quase todas as regiões vitivinícolas portuguesas. No norte tem o nome de Síria e, no Alentejo, o nome de Roupeiro. Esta casta tem a vantagem, tal como a Negra Mole, de ser tardia e permitir uma maturação mais equilibrada, bem com a vindima em dias mais curtos e menos quentes. Os vinhos são frescos, aromáticos e equilibrados. A Crato Branco não tem a fama nem a procura dos vinhos feitos com casta Negra Mole e normalmente é combinada com outras castas mais procuradas pelo consumidor, como as Arinto, Alvarinho, entre outras. Ainda assim, alguns destes vinhos monovarietais de vinhas tradicionais são boas opções.