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Vinhos de Lisboa: uma região premium

Vinhos de Lisboa: uma região premium

A localização entre a costa atlântica e a serra de Montejunto confere aos vinhos de Lisboa características premium. Conheça a região onde se produz alguns dos vinhos mais especiais de Portugal.

Atualizado a 24/08/2022
6 MINUTOS DE LEITURA
Vinhos de Lisboa: frescura e longevidade

A região de vinhos de Lisboa (antiga Estremadura) é uma das maiores do país e possui nove sub-regiões vitivinícolas muito distintas entre si. Aqui, produzem-se alguns dos vinhos mais especiais de Portugal, dos quais se destacam o pouco conhecido vinho Medieval de Ourém, que mistura uvas brancas com tintas, e a melhor aguardente portuguesa da Lourinhã. Lisboa tem ainda o privilégio de integrar três microrregiões na sua geografia, que são Colares, Carcavelos e Bucelas.

Vinhos de Lisboa: quando o mar alimenta o solo

Lisboa tem uma característica comum com a maioria das regiões de vinhos premium do mundo: têm solos que há milhares de anos estavam cobertos pelo mar. Este tipo de solo confere aos vinhos acidez e frescura, bem como uma grande longevidade. A serra de Montejunto separa a região em dois climas distintos. Por um lado, as manhãs enubladas do verão da zona costeira conferem maior acidez e frescura aos vinhos brancos, por outro lado, a zona a oeste da serra permite produzir os tintos mais conhecidos de Lisboa.

 

Os vinhos mais especiais da região de Lisboa são: os Colares branco da casta Malvasia de Colares, o tinto da casta Ramisco, o generoso (Doce) de Carcavelos, o Arinto de Bucelas, o Medieval de Ourém, os brancos da casta Vital de vinhas velhas e os tintos de Alenquer.

 

1. Colares (microrregião)

Considerada uma das sub-regiões mais peculiares do mundo, Colares guarda cerca de 20 hectares de vinhas rasteiras plantadas em solos de dunas de areia nas arribas viradas para o oceano Atlântico. Estas vinhas estão sujeitas a um clima agreste, caracterizado pelo nevoeiro predominante nas áreas mais expostas e por ventos marinhos salgados. Por isso, as vinhas são normalmente protegidas por muros ou cercas de cana. As castas principais desta zona são a Malvasia de Colares (Branca) e a Ramisco (tinta).

 

2. Carcavelos (microrregião)

Carcavelos é considerada a mais pequena região de vinhos de Portugal, com menos de 15 hectares. O seu vinho é generoso e faz lembrar um vinho do Porto Tawny ou um Madeira, pela frescura e forte acidez. Possui cor âmbar brilhante, doçura intensa e grande capacidade de envelhecimento. Os mais reconhecidos são feitos com as famosas aguardentes da Lourinhã das castas brancas – Galego Dourado, Boal, Ratinho e Arinto – e das castas tintas – Castelão e Preto Martinho.

 

3. Bucelas (microrregião)

A única região portuguesa que só faz vinhos brancos e quase exclusivamente da casta Arinto. Apesar de estar plantada de norte a sul de Portugal, é em Bucelas que estas uvas resultam nos melhores vinhos, que podem durar décadas em garrafa. Os solos desta região são acentuadamente calcários, com sedimentos marinhos. Bucelas tem um microclima frio que permite preservar a acidez e os sabores da casta Arinto.

 

4. Alenquer

É nesta sub-região que são feitos os melhores tintos da região de Lisboa. Vinhos concentrados, elegantes e com elevado potencial de guarda. Situada entre a serra
de Montejunto e o rio Tejo, os solos são argilo-calcários em relevo de colinas e vales e as vinhas instaladas maioritariamente em “meia encosta”. As temperaturas bastante altas no verão permitem uma plena maturação das castas tintas mais exigentes, como as Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet. Os brancos também são ótimos, encorpados, cheios e ricos.

 

5. Torres Vedras

A proximidade com o oceano Atlântico faz desta região uma das mais frescas de Portugal, o que permite produzir vinhos frescos, elegantes e aromáticos. Embora seja famosa pelos brancos, nos anos mais quentes e secos destaca-se também a qualidade dos vinhos tintos. O solo espalha-se pelas colinas ventosas a perder de vista, com as vinhas viradas a sul para aproveitar ao máximo o sol.

 

6. Arruda dos Vinhos

Arruda dos Vinhos tem a seu favor o clima heterogéneo, frio como o de Bucelas e propício a brancos de topo, e quente como Alenquer, que é favorável aos melhores tintos da região. É considerada uma das sub-regiões de Lisboa de maior renome.

 

7. Lourinhã

Conhecida pela melhor e mais famosa aguardente portuguesa, a Lourinhã é, a par com Colares, uma das regiões mais frescas e com mais influência atlântica. Apresenta, desta forma, as condições ideais para produzir vinhos de baixo teor alcoólico e acidez elevada, bem como as castas Seminário, Alicante Branco, Marquinhas e Cabinda, utilizadas nos vinhos base das aguardentes. 

 

8. Óbidos

Com um clima semelhante ao de Arruda, esta região é mais vocacionada para brancos, sem, no entanto, deixar de ter alguns dos tintos mais reconhecidos da região de Lisboa. Os brancos mais famosos são de Gaeiras, Bombarral e do Cadaval.

 

9. Encostas d’Aire

Apesar da grande área de extensão, esta é, provavelmente, a região menos conhecida de Lisboa. Aqui, é produzido um dos vinhos mais raros e especiais de Portugal, o Medieval de Ourém. Este vinho é produzido com apenas duas castas: uma branca, a Fernão Pires, que faz parte em cerca de 80% do lote, e uma tinta, a Trincadeira. A produção é considerada suis generis, no sentido em que a vinificação começa com as duas castas em separado mas termina com a sua mistura para maceração, durante bastante tempo. O resultado é um vinho único de cor clara, aromático e com graduação elevada.

Frederico Vilar Gomes
Enólogo Pingo Doce
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